Whitman e Pessoa - meus camaradas - 1ª Edição | 2022
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Edição: 1ª Edição
Autor: Flávio Viegas Amoreira
Acabamento: Brochura
ISBN: 9786553611597
Data de Publicação: 31/12/2022
Formato: 21 x 15 x 1 cm
Páginas: 88
Peso: 0.15kg


Sinopse

*** O culto ao oculto mestre (uma introdução ao claro enigma) “…Tirem esse lixo da minha frente! Metam-me em gavetas essas emoções! Daqui p’ra fora, políticos, literatos, Comerciantes pacatos, polícia, meretrizes, souteneurs, Tudo isso é a letra que mata, não o espírito que dá a vida. O espírito que dá a vida neste momento sou EU!” (Álvaro de Campos − SAUDAÇÃO A WALT WHITMAN) Assim como Fernando Pessoa, sob o pseudônimo de Álvaro de Campos, Flávio Amoreira dedicou-se com intensa atenção e cuidado a fazer sua Saudação em forma de poema à Walt Whitman, chamando-o apropriadamente de my brother, gíria que a juventude dos anos 60/70 adotou como sinal de identificação e que remonta às antigas formas de tratamento codificado entre os seguidores de Jesus, atualizada pelos soldados da Segunda Guerra Mundial, quando várias etnias conflitantes foram enfileiradas nos batalhões nacionais que divergiam em armas, durante o sangrento conflito. Distribuindo suas impressões em seções à moda com que o bardo americano o fez nas mais de 10 edições (aumentadas e revisadas; uma delas, literalmente pirateada e, outra, recolhida sob ameaças penais de um promotor público) de seu clássico As Folhas da Erva − The Leaves of Grass (traduzido por aqui como, Folhas da Relva, provavelmente pelos mesmos motivos que levaram seu autor à demissão de um cargo público por ordem de um conservador que o acusava de indecente), Amoreira trilha a cada bloco as diferentes atualizações dos temas que Whitman fez ao longo da história editorial de seu clássico, destilando seus versos com o tom dos beatnicks − Mick Jagger chegou a comparar Whitman com Bob Dylan, numa apresentação ao vivo − fazendo valer duas das potenciais “forças ético-estéticas” prenunciadas e defendidas até a morte por seu homenageado: a liberdade da arte (o verso livre surge em suas páginas como uma tendência irreversível na literatura moderna) e a poesia como sendo a arma mais poderosa contra a hipocrisia, seja ela contra a que afeta os costumes e a moral; seja contra a que investe contra os direitos utópicos e as liberdades individuais da cidadania democrática (esta, a grande conquista dos revolucionários de seu tempo e seu principal paradigma doutrinário). Sem faltar aos prodígios românticos, Amoreira não se desvia dos assuntos da carne (…que afetam a alma e seduzem o espírito − nas palavras de Allen Ginsberg, a respeito de Whitman) nem omite uma dose calculada daqueles convites à orgia que custaram ao homenageado uma série de perseguições e acusações capazes de liquidar suas economias, comprometer sua dignidade social e ofuscarem maldosamente seu papel de destaque no cenário cultural americano que seu olhar atento e libertário vasculhou com intimidade, perspicácia e uma coragem sem limites. Num ambiente pós-moderno, como o atual, com mais opções disponíveis para tratar das delicadas questões envolvendo as paixões amorosas com mais flexibilidade temática e objetividade sensitiva, correndo os mesmos riscos de ser taxado de libertino, o poeta Amoreira não poupa sua Saudação dos temas caros ao homenageado, com uma elegância retórica rara para os padrões vanguardistas contemporâneos e uma peculiar distinção estilística. Durante a leitura deste longo poema dedicado − que deve ser meritoriamente feita de maneira pausada, refletida e degustada a cada seção −, sente-se por todas as injunções semânticas, disponíveis às dobras do texto corrido, a focada preocupação do autor em manter, sob a superfícies das águas de seu rio, a mesma atenção que Whitman dedicava a questão do tempo (esse cruel rastreador de calendários), não faltando sequer a citação rítmica da arte musical (que tanto pode ser jazz quanto blues − e até mesmo os dois), o que aproxima seus versos da partitura fina de um dos últimos poemas a serem agregados às folhas de Whitman: o consistente Song of Myself. …e assim, Flávio Amoreira, seguindo o mantra de seu ídolo (“seremos profetas sem ultimatos”) ingressa na “horda dos iluminados”, procurando misturar dimensões filosóficas e espirituais para além dos desejos humanos, invocando a atualidade estética de um dos maiores poetas da literatura universal, ao observá-lo com a mesma técnica que ele lhe instigou a aceitar como desafio − ser poeta em tempos sombrios − e convocando cada leitor, que estiver diante de seus versos, a encontrar surpresas, amor, sensualidade, beleza e audácia, diante dos olhos (“…cada olhar será um Rei de todos os sentidos…”) “Minha senha? Walt Whitman! Mas não dou senha nenhuma… Passo sem explicações…” (Álvaro de Campos − SAUDAÇÃO A WALT WHITMAN) Tavinho Paes Rio de Janeiro, 2 de abril de 2019 *** “Saudade – A Terceira Margem do Atlântico” “Depois, seguro e certo como uma maré que sobe, começou o triunfo nos espíritos”. Fernando Pessoa “Mar, infinita figura dos desterrados”, é essa imensidão que recorta a tristeza, esfacela a vida sobre os rochedos e resgata em suas praias os sem-propósito-esses iguais em desespero. Nesse espaço-tempo que se percebe desatado de qualquer controle, o poeta Flávio Viegas Amoreira dá as costas à grande megalópole paulistana e se aproxima da margem do Atlântico. É uma necessidade, um retorno ao útero santista que impulsiona o poeta, um resgate ao cordão umbilical que o liga da terra caótica e sem propósito às ondas de antanho guardadas. Mas as ondas guardadas não devolvem o gosto de sal aos lábios despidos de lembranças. E é dessa vida, desse ir e vir necessário, que nascem muitas das obras do poeta santista. E assim começa esta Ode. Flávio Viegas nos diz de seu tripé temático: o desejo homoerótico, a questão ontológica e um tal “sentimento atlântico do mundo”, sentimento este atado aos calcanhares de todos que partiram da Península Ibérica e aterraram na São Vicente seiscentista. Mas falemos da outra margem, de um outro poeta, pois é disso que trata esta Ode, um verdadeiro diálogo, um palimpsesto construído sobre a célebre “Ode Marítima” escrita por Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa. Em sua carta a Adolfo Casais, Pessoa diz ser um dramaturgo por trás das máscaras involuntárias do poeta. E é o dramaturgo que se despersonaliza instintivamente e cria os heterônimos. É assim que ele se diz VIAJAR (assim mesmo, em maiúsculas, como datilografado pelo poeta). Álvaro de Campos surge em 1914, como um estrondo que “veio à vida como um núcleo de energia para explodir em emoção e em arte.” Nas palavras de Pessoa, o “mais histericamente histérico em mim”, o poeta da intensidade das sensações, que se autodenominou “poeta sensacionista”. “Pus em Álvaro de Campos toda emoção que não dou nem a mim nem à vida”, nos diz o poeta. Fernando Pessoa, mártir consciente do desassossego, se nega, se tolhe, se recria para sobreviver. Flávio age, repica, polemiza, é o homem múltiplo de um único nome. E lança um grito ultramarino: “Somos duas putas” Jorge Elia Neto – poeta *** Pessoa, meu íntimo Aqui deste porto de Santos sinto-me contrapartida de Whitman, Kaváfys, de Pessoa, poeta de uma cidade-estado, ilha solta ao oceano, escritor sempre no exílio do Velho Mundo e do continente brasileiro adentro. Meus ancestrais judeus, mouros, lusitanos me legaram a melancolia que me move navegante pelo sentimento. Fascinam-me as lides dos operários do Brooklyn, as noites de Alexandria, os cantos da Alfama e Mouraria, toda poética feita de vontades inconclusas, ardores clandestinos, as façanhas de heterônimos. Uma obra de versos nacionais porque estrangeiros. Desassossego, rumores meigos, preciso que meus cantos sejam lidos por vocês e que ao interpretá-los façam os vivos, que por vós eles respirem. Num paganismo místico, olho e abraço o horizonte de guindastes, velas, silos e adeuses. Uma poética dos anseios e de suas impossibilidades. A poética, ela mesma como experiência sensória, estiva dos poros. “O abismo é o muro que tenho Ser eu não tem tamanho.” (Álvaro de Campos) “Sinto o meu corpo deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz. Sim, eis o que meus sentidos aprenderam sozinhos: As cousas não têm significação: têm existência. As cousas são o único sentido das cousas.” (Alberto Caeiro) Depois de entregar-te essa obra, retorno ao silêncio comovido de minha alma eloquente. Flávio Viegas Amoreira ***
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Etiquetas: Flávio Viegas Amoreira, Whitman, PESSOA, CAMARADAS