Edição: 1ª Edição
Autor: Donny Correia (Organizador)
Acabamento: Brochura
ISBN: 9786589624158
Data de Publicação: 31/08/2021
Formato: 21 x 15 x 1 cm
Páginas: 176
Peso: 0.1kg
Sinopse
Estigmatizada pelos ataques iconoclastas do jovem Dalton Trevisan – para quem a poesia de Emiliano Perneta consistia num artifício vazio e sem vida, “poemas de casinha de bonecas”, “rasos como capim” –, adentramos o século XXI lendo, criticando e conhecendo pouquíssimo do que escreveu o “príncipe dos poetas paranaenses”. No ano em que celebramos seu centenário de morte, espanta percebermos quão negligentes podemos ser para com o nosso próprio patrimônio cultural: iniciamos 2021 com a obra completa de Emiliano Perneta fora de catálogo e circulação – cenário que se repete há pelo menos duas décadas, aliás. Já é tempo, enfim, de revisitarmos sua poesia para, despidos dos preconceitos de outrora, reavaliarmos suas qualidades e potências, buscando nela o que há de relevante e atual, no sentido forte da expressão.
Na treva da província, seleção de poemas organizada e apresentada pelo crítico e também poeta Donny Correia, surge para, se não suprir, ao menos diminuir esta lacuna em nosso mercado editorial, contribuindo assim para o desenvolvimento de uma fortuna crítica mais ampla e rigorosa em relação à obra de Perneta. Organizada em três seções, esta antologia oferece um eficiente e prazeroso panorama da imensa “elasticidade estética” presente na obra de um autor que, à revelia de quaisquer simplificações erguidas sobre atitudes de menosprezo, perpassa pelo menos três escolas literárias distintas: romantismo, parnasianismo e simbolismo. Aqui, a virulência modernista do julgamento de Trevisan é abandonada em favor de um equilibrado reexame da poesia do paranaense, sob a luz da história e dos embates éticos e estéticos de seu tempo.
Sem descuidar daquilo que nela é intempestivo, quer dizer, a arte de seu criador, Donny Correia situa a obra de Emiliano dentro do panorama maior do simbolismo brasileiro que, por sua vez, é lido como um primeiro momento de ruptura interna com o status quo parnasiano, dominante na Belle Époque nacional. Através destas lentes é que Correia observa na poesia de Perneta – em seu flerte com o satanismo, em sua verve às vezes pessimista e decadentista, prenhe de desilusões – a antecipação de muitos dos aspectos trágicos e das contradições dramáticas que marcariam o século XX (mas também o XXI), demonstrando a modernidade incipiente e a força inequívoca que, para além dos verbetes dos dicionários da poesia simbolista brasileira, a obra do autor possui.
Uma leitura necessária, portanto, para que os feitiços (a)críticos que ainda pairam sobre a figura de Emiliano finalmente se quebrem, revelando ao leitor aquilo que existe por detrás do sapo brejeiro e do príncipe provinciano: o poeta pela sua poesia.
Marco Aurélio de Souza