Edição: 1ª Edição
Autor: Leonardo Bachiega
Acabamento: Brochura
ISBN: 9786586526745
Ano de Publicação: 2021
Formato: 23 x 16 x 1 cm
Páginas: 120
Peso: 0.1kg
Previsão de Lançamento: 01/03/2021
Sinopse
UMA MARÉ QUE SE COLA À LÍNGUA
É uma alegria imensa poder escrever sobre a obra de Leonardo Bachiega, arquitecto e, muito possivelmente, um dos grandes nomes da moderna poética brasileira. A sua obra vem, paulatinamente, a construir-se, a desconstruir-se, a se humanizar cada vez mais, num discurso poético belíssimo, visceral, luminoso, mas também com a sombra que toda a poesia verdadeira deve ter.
O seu mais recente livro de poemas, Solfejo de cores, é uma maré que se cola à língua. Uma maré que dialoga com o trabalho de outros autores, numa samplagem e num solfejo de cores bastante original, criando um retalho de criação e de palavras muito interessante. É evocado o trabalho de e. e. cummings, Ungaretti, mas também de Raul Bopp e da sua Cobra Norato, especialmente na primeira parte do livro, “fio irmão”. Talvez esse solfejo de cores / ou esse fio irmão seja essa cobra da floresta, com muitas cores, mas também com os pequenos escuros que a fazem esconder na penumbra. E é de um diálogo entre a penumbra e a mais amorosa luminosidade que é feito este livro. A ausência que é feita de presença. O pranto que se reflecte nos elementos naturais e a naturalidade das árvores, das flores, das montanhas e das águas que se reflecte nas palavras. De uma certa forma, a poesia de Bachiega lembra-me a palavra nocturna dos místicos, como São João da Cruz, que vivem a melancolia, a noite, a madrugada antes do mergulho sereno e sofrido na mais bela alba / alva. E alba é aqui uma palavra que está presente de uma forma consistente. E também Caeiro como no conjunto de poemas “reflexões sobre o ruído de caeiro e mundo lento”.
A poesia de Bachiega é uma poesia de ausência. Uma ausência que, talvez, se traduza numa presença fortíssima. E não só da linguagem e da figura do poeta, mas também do humano que se faz nessa ausência e que se questiona cada vez mais a sua humanidade e o seu temor / amor perante a paisagem, paisagem essa que é o Aberto de Rilke. Este livro é o Aberto de Rilke que nos questiona sempre através da linguagem e da expressão da existência.
A poesia de Bachiega é uma poesia da natureza, mas de uma natureza que une a morte com o vôo das aves: “Meu desejo dormir e acordar / em um cemitério marinho”, que alimenta as pombas, mas que também alimenta o coveiro. Uma poética que abre a noite e o cemitério, mas que nos restitui à luz que a pomba nos entrega. Uma pomba que, talvez, habite, uma janela demorada junto à amurada do abismo, mas que sabe que, só através do amor e da Amada, do silêncio e da paisagem, pode escrever o mundo com verdade.
Jorge Vicente