Edição: 1ª Edição
Autor: G. W. Leibniz
Acabamento: Brochura
ISBN: 9786589624998
Data de Publicação: 01/07/2022
Formato: 23 x 16 x 5 cm
Páginas: 506
Peso: 0.3kg
Sinopse
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A obra Ensaios de teodiceia do filósofo Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) foi publicada no ano de 1710 e em idioma francês. Curiosamente ela traz consigo um subtítulo extremamente importante para o qual, nem sempre, estamos atentos: sobre a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem do mal. São problemas imensos, metafísicos e sobre os quais nunca cessou de haver grande discussão e controvérsia. Em outras palavras, o subtítulo é, no fundo, talvez a melhor descrição do conteúdo da própria obra e trata, por assim dizer, de temas capitais da história do pensamento, isto é, o cerne da própria concepção de teodiceia só pode ser plenamente compreendido no escopo de uma discussão sobre a bondade divina, a liberdade humana e acerca da origem do mal.
Rigorosamente falando, a própria concepção de teologia racional ou natural, muito antes de estar próxima da tese judaico-cristã, já tinha proximidade com a metafísica aristotélica. Logo, quando na modernidade, Leibniz denomina um projeto como teodiceia não o faz de modo gratuito ou inventado, mas por haver um suporte para tal concepção. É o mesmo tipo de suporte que permitirá a Hegel, já no século XIX, articular sua proposta de filosofia da religião. Por isso, Heine parece perspicaz em sua percepção sobre Hegel e Leibniz: “Eis o grande Hegel, o maior filósofo que a Alemanha já produziu desde Leibniz (HEINE, 1991, p. 122-123). Note-se aqui o duplo elogio.
Contudo, o mesmo autor, também na célebre Contribuição à história da religião e da filosofia na Alemanha, apresenta, ao menos a um primeiro olhar, um juízo não muito favorável ao pensador. Para ele, Leibniz é herdeiro da tradição idealista de Descartes e com suas doutrinas matemáticas e, notadamente com a explicação sobre as mônadas, causa impacto no ambiente filosófico alemão e europeu. Todavia, segundo ele, os Ensaios de teodiceia, a despeito de ter sido bastante discutida na Alemanha, foi seu trabalho menos satisfatório: “Entre todos os escritos de Leibniz, Teodiceia foi o mais discutido na Alemanha. E, no entanto, sua obra filosófica mais fraca” (Heine, 1991, p. 58). A suposta fraqueza da obra de Leibniz se deve ao fato de que a mesma tenta articular uma resposta racional para diversas questões centrais do cristianismo num tempo onde isso não parece ser bem recebido. Por isso, não fortuitamente, o destino dela foi receber a mais severa crítica dos seus contemporâneos.
Contudo, não devemos pensar mal de Heine e nem de Leibniz de modo apressado, pois, nessa mesma obra, aparecem elogios a dois pensadores influenciados por Leibniz: Wolff e Lessing. Do primeiro, diz Heine: “… seu mérito consiste em ter-nos estimulado a também filosofar em nossa língua materna. Se até Lutero só soubéramos tratar de teologia em latim, da mesma forma foi só em latim que, até Wolff, soubemos tratar de filosofia (Heine, 1991, p. 69). Já acerca do segundo autor nele percebemos a clara influência de Espinosa que, em toda a sua obra. é marcante. Entretanto, sua interpretação de Leibniz será ainda mais forte. Para Lessing, tal como para Leibniz, existiam duas modalidades de razão: verdades de fato e verdades de razão. O cristianismo estaria ligado ao primeiro tipo, enquanto a matemática estaria ligada ao segundo tipo. Com tal distinção, Lessing cria um espaço racional para a fé cristã, mas, ao mesmo tempo, aponta que há um grande fosso que separa fé e razão. Curiosamente, tal divisão é, por exemplo, muito utilizada por Kierkegaard, atento leitor de Lessing e de Leibniz, no seu Temor e tremor, onde se notabiliza a ideia do salto da fé. Por isso, o cristianismo seria uma proposta paradoxal que se chocaria com a razão e, nesse sentido, sua tese rememora também o pensamento de Pascal, mas antecipa o pensamento do filósofo dinamarquês, que considera o cristianismo como um escândalo (visto que supera qualquer lei) e como uma loucura (visto que ultrapassa a racionalidade à moda grega), tal como se pode perceber tanto nas suas Migalhas filosóficas como no seu Pós-Escrito às Migalhas filosóficas. (…)
Assim, mais do que avaliarmos o filósofo pelo que outros deles disseram ou por leituras já sedimentas, é conveniente examinar os seus próprios textos e, desse modo, ouvir o que ele nos diz. Nesse sentido, a tradução brasileira, agora na segunda edição, é um convite para que o façamos com o rigor que nos pede um texto filosófico de tal envergadura. Sem medo de filosofar. Uma ousadia no exercício do livre pensamento.
Brasília, 02 de agosto de 2021
Marcio Gimenes de Paula
Universidade de Brasília